Ciências




A intenção deste artigo não é falar sobre os já disseminados e conhecidos benefícios da Acupuntura – MTC (Medicina Tradicional Chinesa). Atualmente abundam reportagens, em todos os tipos de mídia, sobre a eficácia desta ciência milenar e sua propagação no ocidente. Doutores de nossa ciência convencional já “comprovam” sua cientificidade e proclamam: “agora a acupuntura é científica!”. Fala-se de neurotransmissores e receptores, serotoninas e endorfinas e sobre os caminhos da analgesia acupuntural. E também citam os enormes benefícios da técnica, como um instrumento a mais dentro do modus operandi da ciência convencional.

Portanto, a intenção deste artigo é, contrariando o senso comum, denunciar toda esta desinformação, certamente aprovada pelos Conselhos das profissões da área de saúde interessadas e por algumas entidades com interesse escuso, que almejam uma regulamentação parcial desta ciência complexa e milenar -  justamente quando projetos de lei que regulamentam a Acupuntura como uma profissão autônoma e independente, com formação em nível superior, tramitam com força no Congresso Nacional.

Em primeiro lugar, a passagem, em tão pouco tempo, de uma posição de ceticismo total, por parte dos investigadores ocidentais sobre os efeitos da acupuntura, para outra de comprovação científica irrevogável, não é compartilhada por todos os cientistas e causa estranhamento nos mais atentos. Muitos contestam os efeitos mensuráveis da acupuntura e denunciam, inclusive, a falta de explicações válidas sobre os mecanismos fisiológicos verdadeiros decorrentes da técnica[1], dentro da visão perpetuada pela ciência convencional. Por outro lado, o conhecimento da ciência original onde foi formatada a Medicina Chinesa, que contempla o ser humano como uma entidade complexa fruto da interação constante e inseparável entre corpo, mente e espírito (sim, para esta Medicina, o espírito é parte real de cada um de nós, assim como o Qi, força motriz que dá vida ao universo), em sintonia com os conhecimentos da vanguarda científica (vide Física Quântica, Complexidade, Transdisciplinaridade), não somente explica todos os mecanismos de ação da acupuntura (por meio de uma formação complexa e independente) como pode ser de grande ajuda para o nosso parco entendimento sobre a vida. Como disse Guido Palmeira, em seu estudo A Acupuntura no Ocidente: “Talvez a maior colaboração que o Oriente possa trazer à medicina ocidental não esteja na sua técnica, mas no seu saber”. [2]

Outro ponto relevante: hoje vários conselhos da área de saúde reconhecem a acupuntura como especialidade - o da própria medicina, o da psicologia, o da fisioterapia e o da farmácia, dentre outros. Ora, se áreas tão díspares, dentro da mentalidade ocidental, aceitam os efeitos da técnica como válidos em seus campos específicos de atuação, uma obviedade se apresenta, mesmo para os que não conhecem a Medicina Tradicional Chinesa: a acupuntura, dentro de sua racionalidade própria, é que parece englobar esses campos específicos e extrapolar cada um deles. Então o recado: para conhecer a acupuntura e aplicar seus conhecimentos de maneira realmente eficaz é necessário um estudo amplo e complexo, onde não cabe a especialidade como opção. Ou seja, parafreaseando uma campanha já em andamento pelo Brasil, “acupuntura é para acupunturistas”.

Finalizando, gostaria de salientar que as palavras acima proferidas não visam, de maneira alguma, agredir qualquer coletivo ou profissional da área da saúde, mas sim esclarecer a população em geral quanto à visões parciais sobre um assunto de utilidade pública. A regulamentação desta ciência não deve ser tratada com superficialidade, e todos os aspectos devem ser considerados, desde sua retrospectiva histórica e de sua inserção no ocidente, até o conhecimento total de sua racionalidade e de suas ferramentas terapêuticas próprias, tanto pelos que almejam ser chamados acupunturistas quanto pelos que estão envolvidos com o processo legislativo.

Pedro Ivo
Direção de Ensino e Informação
Escola Nacional de Acupuntura - ENAc




[2] PALMEIRA, Guido. A Acupuntura no Ocidente. Cadernos de Saúde Pública, RJ, 6 (2): 117- 128, abr/jun, 1990.

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