quinta-feira, 9 de julho de 2009

o desafio a enfrentar


Complexidade, Transdisciplinaridade e os Fundamentos do Pensamento Oriental

“ A complexidade não é a chave do mundo, mas o desafio a enfrentar , o pensamento complexo não é o que evita ou suprime o desafio, mas o que ajuda a revelá-lo e, por vezes, mesmo a ultrapassá-lo.” Edgar Morin

Alexandre Jorge dos Santos*

O pensamento complexo, a Transdisciplinaridade e os Fundamentos do Pensamento Oriental possuem algo em pararelo ou são apenas modismos, assim por dizer, de uma sociedade que busca muletas para a sua paralisia de paradigmas que respondam às suas expectativas, desejos e tantas interrogações cognitivas ?

Essa pergunta nos parece algo confusa e muito distante pois em nossa mente não existe a conceituação de complexidade, de transdisciplinaridade e, nem tão pouco, de crescimento intelectual dentro de uma filosofia que busca o caminho...... sendo que o caminho é um grande vazio que flui sem transbordar. (...)

Em um primeiro contato , a palavra complexidade, remetendo a pensamento complexo, nos faz pensar em algo difícil , complicado, intricado e intangível, em razão de tocar, dentro do nosso pobre entendimento, na parte mais obscura de cada um - o pensamento (...). Segundo a proposta de Edgar Morin, temos que religar tudo que a ciência cartesiana desligou.

Segundo Humberto Mariotti¹, a complexidade não é um conceito teórico e sim um fato da vida. Corresponde à multiplicidade, ao entrelaçamento e à contínua interação da infinidade de sistemas e fenômenos que compõem o mundo natural. Os sistemas complexos estão dentro de nós e a recíproca é verdadeira. É preciso, pois, entendê-los para melhor conviver com eles. Não importa o quanto tentemos, não conseguimos reduzir essa multidimensionalidade a explicações simplistas, regras rígidas, fórmulas simplificadoras ou esquemas fechados de idéias. A complexidade só pode ser entendida por um sistema de pensamento aberto , abrangente e flexível: uma nova visão de mundo, que aceita e procura compreender as mudanças contínuas do real e não pretende negar a multiplicidade , a aleatoriedade e a incerteza, e sim conviver com elas.

Segundo Capra (1996) o pensamento fragmentado não é capaz de tratar e resolver a interconexão dos problemas globais, tanto nos níveis maiores da sociedade como no nível do indivíduo , da particularidade. É necessário então uma nova forma de pensar e visualizar o mundo, que elimine a chamada “crise de percepção”, que é a raiz mais profunda das crises que nos cercam.

Analisando a proposta de Morin, explicitada no livro "Os sete saberes necessários à educação do futuro" (http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/EdgarMorin.pdf), que ele mesmo chama de inspirações para o educador (...) conclui-se que na questão prática de aplicar os saberes, o fundamental é não transformá-los em disciplinas, mas sim em diretrizes para ação e para elaboração de propostas e intervenções educacionais. Talvez, em razão disso é possível observarmos uma grande proximidade entre “Os sete saberes” e os artigos da "Carta da Transdisciplinaridade". (http://www.cetrans.com.br/textos/documentos/carta-da-transdisciplinaridade.pdf )

(...) Com base no livro do Professor Humberto Mariotti, As Paixões do Ego : Complexidade, Política e Solidariedade (São Paulo, Editora Palas Athena, 2000) , transcrevo pontos que permitem um melhor entendimento quanto ao pensamento complexo:

● Tudo está ligado a tudo.*
● O mundo natural é constituído de opostos ao mesmo tempo antagônicos e complementares. *
● Toda ação implica um Feedback.
● Todo Feedback resulta em novas ações.
● Vivemos em círculos sistêmicos e dinâmicos de feedback, e não em linhas estáticas de causa-efeito imediato.
● Por isso, temos responsabilidade em tudo que influenciamos.*
● O feedback pode surgir bem longe da ação inicial, em termos de tempo espaço.
● Todo sistema reage segundo a sua estrutura.
● A estrutura de um sistema muda continuamente , mas não a sua organização.*
● Os resultados nem sempre são proporcionais aos esforços iniciais.
● Os sistemas funcionam melhor por meio de suas ligações mais frágeis.
● Uma parte só pode ser definida como tal em relação a um todo.
● Nunca se pode fazer uma coisa isolada.*
● Não há fenômenos de causa única no mundo natural.
● As propriedades emergentes de um sistema não são redutíveis aos seus componentes.
● É impossível pensar num sistema sem pensar em seu contexto ( seu ambiente)*
● Os sistemas não podem ser reduzidos ao meio ambiente e vice-versa.

Alguns Benefícios do Pensamento Complexo:

● Facilita a percepção de que a maioria das situações segue em determinados padrões.*
● Facilita a percepção de que é possível diagnosticar esses padrões (ou arquétipos sistêmicos, ou modelos estruturais) e assim intervir para modificá-los (no plano individual, no trabalho e em outras circunstâncias).
● Facilita o desenvolvimento de melhores estratégias de pensamento.
● Permite não apenas entender melhor e mais rapidamente as situações , mas também ter a possibilidade de mudar a forma de pensar que levou a elas.*
● Permite aperfeiçoar as comunicações e as relações interpessoais.
● Permite perceber e entender as situações com mais clareza, extensão e profundidade.
● Por isso, aumenta a capacidade de tomar decisões de grande amplitude e longo prazo.

O que se aprende por meio do Pensamento Complexo:

● Que pequenas ações podem levar a grandes resultados (efeito borboleta).
● Que nem sempre aprendemos pela experiência.
● Que só podemos nos autoconhecer com a ajuda dos outros.
● Que soluções imediatistas podem provocar problemas ainda maiores do que aqueles que estamos tentando resolver.
● Que não existem fenômenos de causa única.
● Que toda ação produz efeitos colaterais.
● Que soluções óbvias em geral causam mais mal do que bem.
● Que é possível (e necessário) pensar em termos de conexões, e não de eventos isolados.*
● Que os princípios do pensamento sistêmico podem ser aplicados a qualquer sistema.
● Que os melhores resultados vêm da conversação e do respeito à diversidade de opiniões, não do dogmatismo e da unidimensionalidade.
● Que o imediatismo e a inflexibilidade são os primeiros passos para o subdesenvolvimento, seja ele pessoal, grupal ou cultural.

* Esses pontos, especificamente, podem ser comparados com a postura do Acupunturista frente ao tratamento e com as bases e fundamentos do Pensamento Oriental.

* Trechos do trabalho apresentado para a disciplina de Fundamentos do Pensamento Oriental, do Curso Técnico de Acupuntura, da Escola Nacional de Acupuntura - ENAc

1. Médico psicoterapeuta, coordenador do Grupo de Estudos de Complexidade e Pensamento Sistêmico da Associação Palas
Athena(SP). www.geocities.com/pluriversu

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